quarta-feira, 16 de novembro de 2011

DC UNIVERSE - LEGACIES

O Universo DC, onde habitam heróis como Superman, Batman e Mulher-Maravilha, segundo Grant Morrison, pode ser entendido como um ser inteligente capaz de se auto-reformular.

A visão do roteirista escocês apaixonado pela editora pode parecer por demais romântica, mas o fato é que artistas e editores vêm e vão e, com eles, o quadriverso original vai sendo constantemente alterado através do espaço e do tempo.

Foi assim no início da Era de Prata, quando novas versões de heróis já conhecidos surgiram adotando outras identidades e origens. Foi assim com Crise nas Infinitas Terras, quando a DCunificou seu multiverso e reinventou seus personagens. Foi assim por ocasião do recente rebootde 52 títulos da editora.

E, de tempos em tempos, grandes nomes do mercado tratam de narrar diversos momentos da rica cronologia do Universo DC, tentando dar sentido à bagunça que impera entre as reformulações. É o que fazem Len Wein e uma constelação de artistas neste encadernado.

Narrando acontecimentos marcantes do Universo DC pelos olhos de um homem comum, o policial Paul Lincoln, desde a infância até a velhice, o veterano Len Wein apresenta uma história memorável.

Começando durante a Era de Ouro, quando surgiram os homens misteriosos, a narrativa avança para a criação da Sociedade da Justiça da América e sua posterior dissolução, ruma para um período sem super-heróis e o advento da Era Moderna com a primeira aparição do Superman, chegando ao fim com os prelúdios de Crise Infinita.

São também revisitados o surgimento da Liga da Justiça e dos Novos Titãs, além de eventos marcantes como A morte do Superman e A queda do Morcego.

O grande trunfo do roteiro é mostrar como esses acontecimentos fictícios tão conhecidos pelos leitores habituais marcaram a vida de uma pessoa comum, explorando temas prementes como amizade, amor, responsabilidade e a relação entre pais e filhos.

Nesse aspecto, a história lembra bastante o clássico Marvels, escrito por Kurt Busiek e que lançou o pintor hiper-realista Alex Ross ao estrelato, porém com escopo bem mais abrangente.

Convém destacar o efeito do tiro do Coringa que paralisou a Batgirl Bárbara Gordon, na clássica história A piada mortal, de Alan Moore e Brian Bolland, sobre Paul Lincoln, e o bem sacado comentário de que ninguém se lembra exatamente da mesma maneira da grande Crise.

Por outro lado, eventos como a queda em desgraça do Lanterna Verde Hal Jordan são mal explorados e parecem constar apenas devido ao impacto sobre os leitores na época de sua publicação.

A arte merece comentários especiais. Estão aqui reunidos alguns dos maiores talentos da indústria dos quadrinhos, cada um ilustrando um momento específico.

Assim, Joe e Andy Kubert, pai e filho, desenham o capítulo dedicado ao surgimento dos homens misteriosos, enquanto José Garcia-López e Dave Gibbons ficam responsáveis pela Era de Prata. George Pérez e Dan Jurgens retomam suas sagas clássicas, respectivamente Crise nas Infinitas Terras e A morte do Superman, e é deleitável vê-los em ação nos cenários conhecidos.

O ponto negativo é a arte de Tom Derenick, um desenhista pouco expressivo, que não está à altura dos demais.

Ao término da história principal, há pequenos contos explorando o Universo DC, com personagens variados, por artistas diversos. E todos cumprem bem o seu papel de apresentar heróis de diversas eras, do Rei Arthur de Camelot 3000, com arte de Brian Bolland, à futuristaLegião dos Super-Heróis, por Keith Giffen.

É fato que esta versão do Universo DC já foi descartada pela editora com o atual reboot, mas isso não apaga o valor de suas histórias. E se não é perfeita, DC Universe - Legacies funciona como registro histórico e obra de fôlego

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